domingo, 6 de maio de 2012

A Aliança Rebelde e os Transformers


            Era mais um dia animado que eu passava com meus amigos. O lugar era estranho, uma casa grande com uma garagem na frente ainda maior onde estavam estacionados vários carros, um deles era um tanto diferente dos outros. Era o meu. Um belo veículo de passeio, com menos de um ano de idade, que eu carinhosamente apelidara de Hilda, estava se comportando como uma velharia de mais de vinte anos.
            Eu o estacionara em uma rampa e, mesmo com o freio de mão puxado, ele insistia em escorregar. Acreditem ou não, passei metade do meu dia tentando arranjar um lugar para estacionar esse carro.
            Bem, tirando o foco de minhas desventuras com Hilda, vamos ver o que o pessoal estava fazendo.
            No lote ao lado, vi uma pessoa gigante brincando com bonequinhos de playmobil e levei um susto. COMO!? Um doce para quem adivinhar quem era o indivíduo. Sim, queridos, nosso mangaká emergente, Mashiro!
            “Ok...” foi o que pensei.
            “Nossa, como é complicado brincar aqui...” Disse ele.
          “Não esquenta, é que agora as construtoras estão modificando todas as casas do Bandeirante.” E quem era esse!? “Estão construindo sótãos em todas elas.” Deus do céu! Essa voz é familiar! Ora se não era nosso querido Lee com sua voz musical.
            E agora a parte mais estranha da conversa:
            “Fiquei sabendo que com esses sótãos, fica mais fácil brincar nas drogarias.”
            “COMO!?” Pensei mais uma vez enquanto manobrava o carro. “Vocês são gigantes, como fica mais fácil brincar? E como assim!?” Gritei a mim mesma enquanto olhava o retrovisor.
             Longe daquela loucura de gigantes e bonequinhos playmobil, estavam nossos amigos mais nerds jogando TCG, como de sempre. Nada muito estranho ali, só uma grande comoção, como se fosse a final de um campeonato mundial. Eram tantas pessoas na frente, Nelson, Ascot, Reh, Sorinha, Matt, Pehu, Hachi, Pekeno e Fye que não vi nem que estava jogando.
            “Ah, nada fora do normal... QUE ISSO!?”
            E então, luzes de todas as cores saíam do meio das pessoas. Desviei o olhar, pois quase bati a traseira do carro na parede.
            “Ok, foco... Isso deve ser um sonho.”
            E quer saber? Que porcaria, eu não estava aproveitando nada! Só estacionando aquela droga de carro que insistia em escorregar na maldita da rampa.
            E nesse momento de fúria, uma pessoa se materializou do meu lado. Ela me lembrava de todas as professoras de química que eu já tive. Mas ela era branca e tinha os olhos verdes. Seus cabelos eram curtos e castanhos claros.
           “Quem...?” tentei começar. Não é todo dia quem alguém se materializa no banco do passageiro do seu carro.
            “Não tem importância. Estive observando seu problema com o carro.”
            “É, tá difícil.” Quem era ela?
            “Sabe, eu decidi me tornar professora de letras.” Disse ela com um olhar brilhante.
            Como assim!? Você me materializa ao meu lado, no passageiro, diz que está me observando e quando eu espero que você arranje uma solução para o meu problema, você me fala que decidiu ser professora de letras!? DAFUQ IS WRONG WITH U!?
            “Ah sério? Você parece professora de química...” Mudei a marcha de R para D.
            E quer saber? Já estou de saco cheio dessa manobragem toda, vou estacionar bem ali onde não pode.
            E acelerei. E Hilda, meu querido carro, subiu a rampa, lentamente. Lentamente. Lentamente. BAM! E lá se foram alguns arranhões no para-choque.  Mas estávamos lá, vibrantes sobre o local onde o pessoal caminhava. Ali era plano, então Hilda não corria perigo de escorregar. Pena que tinha um degrau e acabei arranhando o para-choque.
            Quem mandou dar problema ainda tão jovem...
            “Segunda eu vou levar ela pra revisão. Mas que coisa.”
            E a mulher ainda estava ao meu lado, com aquela cara de boba.
            “Sim, sou professora de química, mas encontrei minha paixão nas letras.”
            “Escreve um livro de química, oras!”
            “Ah não é tão simples!”
            “Qual é! Eu passei por isso no meio da minha graduação, você não vai conseguir! Não mesmo. Deveria ter mudado de ideia enquanto ainda era caloura.”
            Ela nada disse. Acho que peguei pesado.
            Espera: eu passei por isso na graduação...
            “Ei, você gosta de Coração de Tinta?” Perguntei.
            “Sim! É uma boa leitura!” E os olhinhos dela brilharam.
            Daí carro com pressa. Se ela se materializou, que se desmaterialize! Tranquei o carro e corri pra dentro da casa. Era noite já e estava frio.
            Não cheguei a ver quem estava dentro da casa. A escuridão tomou conta de tudo e, quando dei por mim, já era manhã e eu estava brincando com Mashiro e Lee e seus bonequinhos da playmobil. Por algum motivo eles voltaram ao tamanho normal.
          “Escutava-se da boca de todas as senhoras fofoqueiras do bairro: Basta está seguindo o jovem universitário! Pobrezinho!” Mashiro era o narrador e vilão, até onde vi. “Mas nenhuma delas se atrevia a ajudar o pobre universitário que fingia não ser ele mesmo.”
            “AAAARHHH!! É muito difícil ser o universitário perseguido pela morte! E nada do que faço da certo!” Retrucou Lee, o tal universitário. Ele segurava um bonequinho de “camisa” vermelha e “calça” azul.
            Basta é um dos vilões de Coração de Tinta. Acho que eles estavam criando uma história além. E sério? Coração de Tinta mais uma vez?
            E então aparece nossa musa, Rinoa, de pijama e com os cabelos bagunçados. Ela vem, senta-se e fica observando os meninos brincando com seus bonequinhos.
            Rinoa o que aconteceu contigo? Quando você vai pedir mimos ao Mashiro ou reclamar alguma coisa?
            Algo estava muito errado e eu precisava sair dali.
            Quando me levanto encontro Reh e seu gato, Luke. Ambos me encarando, sérios.
            A Reh séria? Gente, o que aconteceu?
            “Precisamos encontrar o Ascot.” Disse ela.
            “O que aconteceu?”
            “Ele virou líder de uma aliança rebelde...”
            “Parece um sonho isso.”
            Ela me olhou com uma expressão tão óbvia... Como eu não havia percebido? Pessoas não ficam gigantes do nada e nem voltam ao tamanho normal do nada! Além de que, cartas não liberam brilhos. E a Rinoa não é tão quietinha assim. (Nem a Reh tão séria assim.)
            “ASCOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOT!!!!” Gritei. E nem na vida real eu grito tão alto assim.
            O que vi foi a galera correndo para todos os lados. Caos. E um rosto desconhecido se aproxima.
            “Por aqui.” Disse o menino. Quem era ele? No Idea.
          E então o seguimos. Ele nos levou a um prédio, o qual subimos por um elevador. Chegamos ao último andar, a porta se abriu e o que vi foi um corredor da morte. Sabres de luz e Transformers. Sim, TRANSFORMERS.
            Olhei pro guri e ele se encolheu.
            “Eu não entro aí.”
            A Reh olhou feio pra ele também.
            Saímos do elevador e eu gritei mais uma vez:
            “ASCOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOT!!!!”
            Todos aqueles olhinho brilhantes voltaram-se para nós, mas eles não moveram um músculo... ou, ahm... metal.
            Caminhamos, a Reh e eu, pelo corredor da morte. Ao final do corredor, havia um humano e uma porta. Ascot deveria estar atrás daquela porta. E quem era aquele humano? Odeio lugares escuros, não dá pra reconhecer ninguém.
            “Vocês não podem incomodar o mestre Ascot.” Nossa, tratamento vip pra ele hein?
            “Vai, eu cuido desse aqui.” Disse Reh encarando aquele humano. Como ela sabia que era “ele” com tanta certeza? Será que o Luke, o gato, disse a ela?
            Já não duvido de mais nada.
            E, quando toquei na maçaneta, a porta se abriu e, de lá, saiu Ascot. Cabelos grisalhos, e uniforme de StarTrek. Sério. Ele me lembrou do Spock...
             “Mana!” Ele abriu um sorriso enorme e me abraçou. Em minha ingenuidade, eu o abracei. Triste erro. Ele tentou me matar com um canivete!
            “Que isso!?”
            E ele apenas riu de forma macabra e veio em minha direção.
            Olhei para o lado, a porta aberta me ajudou a enxergar quem era aquele ser que a Reh encarava. SURPRESA! Era o Ruh!!! E ele fazia parte da aliança rebelde. CAAAARA! Eles se encaravam já tinha um tempo... O que era aquilo? Uma briga psicológica? Bom, comigo é no punho.
            O que foi que eu pensei: agarro o braço do Ascot e coloco os meus ensinamentos de judô em prática. Derrubo ele no chão e prendo o braço dele com um armlock enquanto sua legião de humanos e transformers olham e choram. HAHAHAHAHA. Fácil, isso é um sonho.
            E então me lembrei de que eu nunca conseguia fazer isso no tatame. E lá se foi a minha confiança. Então, vamos ao plano B.
            (Eu ainda acho incrível em como eu consegui pensar nisso tudo e nada aconteceu ao meu redor. Sonhos.)
            Plano B.
            Corri e entrei na salinha. Por algum motivo Luke, o gato, estava lá. Sabe adoro animais. Geralmente eu tenho um ataque tipo... Felícia. Especialmente com gatinhos fofos como o Luke.
            Eu o agarrei e fiquei dizendo “Gatinho! Gatinho!” e ele golpeou o meu olho. MEU OLHO DIREITO!
            E o Ascot entrou lá. Lascou! Vou morrer.
            Plano C.
            “Ascot fora da brincadeira. É sério. Tá machucado?” Mostrei o olho golpeado a ele.
            “Não, tá de boa.” Disse ele atencioso. Como isso funcionou eu ainda não entedi.
            “Sério mesmo? Não tá sangrando nem nada? É que tá doendo.”
            “Relaxa, tá só vermelhinho, mas não tem sangue não.” ele se aproximou e deu um beijinho no meu olho, pra sarar. Bingo.
            Agarrei o braço dele, virei de costas, puxei e me ajoelhei no chão. Ascot, infelizmente, passou rolando por cima de mim e caiu no chão enquanto eu me levantava com classe.
            “IPPON!” Seria isso que o juiz diria. Se houvesse um ali, claro.
            Segurei a mão do Ascot e a torci no sentindo contrário ao que ela deveria ficar. Como eu adoro fazer isso, é tão legal ver a pessoa rolando pro lado que você vira a mão dela.
            “Então você vai vir com a gente, maninho?” Me senti tão badass.
            “Sim! Sim! Sim!” sim, gritos de dor! HAHAHAHAHA.
            A música temática aqui deveria ser Satisfaction de The Rolling Stones e não o que vem a seguir.

            “Nossa... Nossa assim você me mata. Ai se eu te pego ai, ai se eu te pego!”
            “Hm...” E eu acordava de meu sonho intenso.
            “Delícia, delícia. Assim você me mata. Ai se eu te pego ai, ai se eu te pego!”
            “Vizinhos...” Foi a primeira coisa que pensei pela manhã. O sonho estava tão maneiro e essa era a forma de me acordar? Vocês me pagam!   
            Logo em seguida liguei pro Gui, meu amor, e contei tudo. Ele riu, também tinha sido acordado de forma imprópria, mas pelo toque do celular dele que é muito melhor que isso que eu escrevi ali em cima.
            Que bom que era um sonho. Mas será que a Reh voltou a ser alegre e sorridente? E a Rinoa voltou a ser manhosa e exigente? E o Lee e o Mashiro desencanaram dos bonecos playmobil? E Hilda parou de escorregar da rampa? E o pessoal do TCG?
            Bem, aqui na vida real eu posso afirmar que a Hilda não escorrega das rampas e que seu para-choque ainda está inteiro. Até onde eu sei a Reh deve estar alegre e a Rinoa já deve ter arrumado o cabelo bagunçado dela. Quanto ao Mashiro e o Lee. Bem... espero que não estejam brincando com os bonequinhos da playmobil.
            E aquela criatura que se materializou? Depois que acordei eu pensei: “será que era meu alterego? Ou meu eu do futuro?” Bem, com certeza não vou largar a Química pelas Letras. Largo a Química pelos desenhos. Certeza.

            OBS: sabe, eu não sou tão nerd assim. Só um episódio de Star Wars e nenhum de Star Trek. Se cometi alguma gafe, foi meu sonho. É culpa do meu subconsciente! X: