Era
mais um dia animado que eu passava com meus amigos. O lugar era estranho, uma
casa grande com uma garagem na frente ainda maior onde estavam estacionados
vários carros, um deles era um tanto diferente dos outros. Era o meu. Um belo
veículo de passeio, com menos de um ano de idade, que eu carinhosamente
apelidara de Hilda, estava se comportando como uma velharia de mais de vinte
anos.
Eu
o estacionara em uma rampa e, mesmo com o freio de mão puxado, ele insistia em
escorregar. Acreditem ou não, passei metade do meu dia tentando arranjar um
lugar para estacionar esse carro.
Bem,
tirando o foco de minhas desventuras com Hilda, vamos ver o que o pessoal
estava fazendo.
No
lote ao lado, vi uma pessoa gigante brincando com bonequinhos de playmobil e
levei um susto. COMO!? Um doce para quem adivinhar quem era o indivíduo. Sim,
queridos, nosso mangaká emergente, Mashiro!
“Ok...”
foi o que pensei.
“Nossa,
como é complicado brincar aqui...” Disse ele.
“Não
esquenta, é que agora as construtoras estão modificando todas as casas do
Bandeirante.” E quem era esse!? “Estão construindo sótãos em todas elas.” Deus
do céu! Essa voz é familiar! Ora se não era nosso querido Lee com sua voz
musical.
E
agora a parte mais estranha da conversa:
“Fiquei
sabendo que com esses sótãos, fica mais fácil brincar nas drogarias.”
“COMO!?”
Pensei mais uma vez enquanto manobrava o carro. “Vocês são gigantes, como fica
mais fácil brincar? E como assim!?” Gritei a mim mesma enquanto olhava o
retrovisor.
Longe daquela loucura de gigantes e
bonequinhos playmobil, estavam nossos amigos mais nerds jogando TCG, como de
sempre. Nada muito estranho ali, só uma grande comoção, como se fosse a final
de um campeonato mundial. Eram tantas pessoas na frente, Nelson, Ascot, Reh,
Sorinha, Matt, Pehu, Hachi, Pekeno e Fye que não vi nem que estava jogando.
“Ah,
nada fora do normal... QUE ISSO!?”
E
então, luzes de todas as cores saíam do meio das pessoas. Desviei o olhar, pois
quase bati a traseira do carro na parede.
“Ok,
foco... Isso deve ser um sonho.”
E
quer saber? Que porcaria, eu não estava aproveitando nada! Só estacionando
aquela droga de carro que insistia em escorregar na maldita da rampa.
E
nesse momento de fúria, uma pessoa se materializou do meu lado. Ela me lembrava
de todas as professoras de química que eu já tive. Mas ela era branca e tinha
os olhos verdes. Seus cabelos eram curtos e castanhos claros.
“Quem...?”
tentei começar. Não é todo dia quem alguém se materializa no banco do
passageiro do seu carro.
“Não
tem importância. Estive observando seu problema com o carro.”
“É,
tá difícil.” Quem era ela?
“Sabe,
eu decidi me tornar professora de letras.” Disse ela com um olhar brilhante.
Como
assim!? Você me materializa ao meu lado, no passageiro, diz que está me
observando e quando eu espero que você arranje uma solução para o meu problema,
você me fala que decidiu ser professora de letras!? DAFUQ IS WRONG WITH U!?
“Ah
sério? Você parece professora de química...” Mudei a marcha de R para D.
E
quer saber? Já estou de saco cheio dessa manobragem toda, vou estacionar bem
ali onde não pode.
E
acelerei. E Hilda, meu querido carro, subiu a rampa, lentamente. Lentamente.
Lentamente. BAM! E lá se foram alguns arranhões no para-choque. Mas estávamos lá, vibrantes sobre o local
onde o pessoal caminhava. Ali era plano, então Hilda não corria perigo de
escorregar. Pena que tinha um degrau e acabei arranhando o para-choque.
Quem
mandou dar problema ainda tão jovem...
“Segunda
eu vou levar ela pra revisão. Mas que coisa.”
E
a mulher ainda estava ao meu lado, com aquela cara de boba.
“Sim,
sou professora de química, mas encontrei minha paixão nas letras.”
“Escreve
um livro de química, oras!”
“Ah
não é tão simples!”
“Qual
é! Eu passei por isso no meio da minha graduação, você não vai conseguir! Não
mesmo. Deveria ter mudado de ideia enquanto ainda era caloura.”
Ela
nada disse. Acho que peguei pesado.
Espera:
eu passei por isso na graduação...
“Ei,
você gosta de Coração de Tinta?” Perguntei.
“Sim!
É uma boa leitura!” E os olhinhos dela brilharam.
Daí
carro com pressa. Se ela se materializou, que se desmaterialize! Tranquei o
carro e corri pra dentro da casa. Era noite já e estava frio.
Não
cheguei a ver quem estava dentro da casa. A escuridão tomou conta de tudo e,
quando dei por mim, já era manhã e eu estava brincando com Mashiro e Lee e seus
bonequinhos da playmobil. Por algum motivo eles voltaram ao tamanho normal.
“Escutava-se
da boca de todas as senhoras fofoqueiras do bairro: Basta está seguindo o jovem
universitário! Pobrezinho!” Mashiro era o narrador e vilão, até onde vi. “Mas
nenhuma delas se atrevia a ajudar o pobre universitário que fingia não ser ele
mesmo.”
“AAAARHHH!!
É muito difícil ser o universitário perseguido pela morte! E nada do que faço
da certo!” Retrucou Lee, o tal universitário. Ele segurava um bonequinho de
“camisa” vermelha e “calça” azul.
Basta
é um dos vilões de Coração de Tinta. Acho que eles estavam criando uma história
além. E sério? Coração de Tinta mais uma vez?
E
então aparece nossa musa, Rinoa, de pijama e com os cabelos bagunçados. Ela
vem, senta-se e fica observando os meninos brincando com seus bonequinhos.
Rinoa
o que aconteceu contigo? Quando você vai pedir mimos ao Mashiro ou reclamar
alguma coisa?
Algo
estava muito errado e eu precisava sair dali.
Quando
me levanto encontro Reh e seu gato, Luke. Ambos me encarando, sérios.
A
Reh séria? Gente, o que aconteceu?
“Precisamos
encontrar o Ascot.” Disse ela.
“O
que aconteceu?”
“Ele
virou líder de uma aliança rebelde...”
“Parece
um sonho isso.”
Ela
me olhou com uma expressão tão óbvia... Como eu não havia percebido? Pessoas
não ficam gigantes do nada e nem voltam ao tamanho normal do nada! Além de que,
cartas não liberam brilhos. E a Rinoa não é tão quietinha assim. (Nem a Reh tão
séria assim.)
“ASCOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOT!!!!”
Gritei. E nem na vida real eu grito tão alto assim.
O
que vi foi a galera correndo para todos os lados. Caos. E um rosto desconhecido
se aproxima.
“Por
aqui.” Disse o menino. Quem era ele? No Idea.
E
então o seguimos. Ele nos levou a um prédio, o qual subimos por um elevador.
Chegamos ao último andar, a porta se abriu e o que vi foi um corredor da morte.
Sabres de luz e Transformers. Sim, TRANSFORMERS.
Olhei
pro guri e ele se encolheu.
“Eu
não entro aí.”
A
Reh olhou feio pra ele também.
Saímos
do elevador e eu gritei mais uma vez:
“ASCOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOT!!!!”
Todos
aqueles olhinho brilhantes voltaram-se para nós, mas eles não moveram um
músculo... ou, ahm... metal.
Caminhamos,
a Reh e eu, pelo corredor da morte. Ao final do corredor, havia um humano e uma
porta. Ascot deveria estar atrás daquela porta. E quem era aquele humano? Odeio
lugares escuros, não dá pra reconhecer ninguém.
“Vocês
não podem incomodar o mestre Ascot.” Nossa, tratamento vip pra ele hein?
“Vai,
eu cuido desse aqui.” Disse Reh encarando aquele humano. Como ela sabia que era
“ele” com tanta certeza? Será que o Luke, o gato, disse a ela?
Já
não duvido de mais nada.
E,
quando toquei na maçaneta, a porta se abriu e, de lá, saiu Ascot. Cabelos
grisalhos, e uniforme de StarTrek. Sério. Ele me lembrou do Spock...
“Mana!” Ele abriu um sorriso enorme e me
abraçou. Em minha ingenuidade, eu o abracei. Triste erro. Ele tentou me matar
com um canivete!
“Que
isso!?”
E
ele apenas riu de forma macabra e veio em minha direção.
Olhei
para o lado, a porta aberta me ajudou a enxergar quem era aquele ser que a Reh
encarava. SURPRESA! Era o Ruh!!! E ele fazia parte da aliança rebelde. CAAAARA!
Eles se encaravam já tinha um tempo... O que era aquilo? Uma briga psicológica?
Bom, comigo é no punho.
O
que foi que eu pensei: agarro o braço do Ascot e coloco os meus ensinamentos de
judô em prática. Derrubo ele no chão e prendo o braço dele com um armlock
enquanto sua legião de humanos e transformers olham e choram. HAHAHAHAHA.
Fácil, isso é um sonho.
E
então me lembrei de que eu nunca conseguia fazer isso no tatame. E lá se foi a
minha confiança. Então, vamos ao plano B.
(Eu
ainda acho incrível em como eu consegui pensar nisso tudo e nada aconteceu ao
meu redor. Sonhos.)
Plano
B.
Corri
e entrei na salinha. Por algum motivo Luke, o gato, estava lá. Sabe adoro
animais. Geralmente eu tenho um ataque tipo... Felícia. Especialmente com
gatinhos fofos como o Luke.
Eu
o agarrei e fiquei dizendo “Gatinho! Gatinho!” e ele golpeou o meu olho. MEU
OLHO DIREITO!
E
o Ascot entrou lá. Lascou! Vou morrer.
Plano
C.
“Ascot
fora da brincadeira. É sério. Tá machucado?” Mostrei o olho golpeado a ele.
“Não,
tá de boa.” Disse ele atencioso. Como isso funcionou eu ainda não entedi.
“Sério
mesmo? Não tá sangrando nem nada? É que tá doendo.”
“Relaxa,
tá só vermelhinho, mas não tem sangue não.” ele se aproximou e deu um beijinho
no meu olho, pra sarar. Bingo.
Agarrei
o braço dele, virei de costas, puxei e me ajoelhei no chão. Ascot,
infelizmente, passou rolando por cima de mim e caiu no chão enquanto eu me
levantava com classe.
“IPPON!”
Seria isso que o juiz diria. Se houvesse um ali, claro.
Segurei
a mão do Ascot e a torci no sentindo contrário ao que ela deveria ficar. Como
eu adoro fazer isso, é tão legal ver a pessoa rolando pro lado que você vira a
mão dela.
“Então
você vai vir com a gente, maninho?” Me senti tão badass.
“Sim!
Sim! Sim!” sim, gritos de dor! HAHAHAHAHA.
A
música temática aqui deveria ser Satisfaction de The Rolling Stones e não o que
vem a seguir.
“Nossa... Nossa assim você me mata. Ai se eu
te pego ai, ai se eu te pego!”
“Hm...” E eu acordava de meu sonho
intenso.
“Delícia, delícia. Assim você me mata. Ai se
eu te pego ai, ai se eu te pego!”
“Vizinhos...”
Foi a primeira coisa que pensei pela manhã. O sonho estava tão maneiro e essa
era a forma de me acordar? Vocês me pagam!
Logo
em seguida liguei pro Gui, meu amor, e contei tudo. Ele riu, também tinha sido
acordado de forma imprópria, mas pelo toque do celular dele que é muito melhor
que isso que eu escrevi ali em cima.
Que
bom que era um sonho. Mas será que a Reh voltou a ser alegre e sorridente? E a
Rinoa voltou a ser manhosa e exigente? E o Lee e o Mashiro desencanaram dos
bonecos playmobil? E Hilda parou de escorregar da rampa? E o pessoal do TCG?
Bem,
aqui na vida real eu posso afirmar que a Hilda não escorrega das rampas e que
seu para-choque ainda está inteiro. Até onde eu sei a Reh deve estar alegre e a
Rinoa já deve ter arrumado o cabelo bagunçado dela. Quanto ao Mashiro e o Lee.
Bem... espero que não estejam brincando com os bonequinhos da playmobil.
E
aquela criatura que se materializou? Depois que acordei eu pensei: “será que
era meu alterego? Ou meu eu do futuro?” Bem, com certeza não vou largar a
Química pelas Letras. Largo a Química pelos desenhos. Certeza.
OBS:
sabe, eu não sou tão nerd assim. Só um episódio de Star Wars e nenhum de Star
Trek. Se cometi alguma gafe, foi meu sonho. É culpa do meu subconsciente! X: